Publicado em 01 de Novembro de 2025

Sidney Luiz de Matos Mello1, Farid Chemale Junior2, Luigi Jovane3, Marcelo Francisco Campos4.
1 Universidade Federal Fluminense (UFF) / Centro de Excelência para o Mar Brasileiro (CEMBRA)
2 Coordenador do INCT-Atlântico / Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
3 Instituto Oceanográfico de São Paulo (IOUSP)
4 Presidente da Fundação de Estudos do Mar (FEMAR)
A Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021–2030), proclamada pela ONU, consolidou-se como o principal movimento global de mobilização científica em prol da sustentabilidade do planeta. Mais do que uma agenda internacional sobre os oceanos, ela propõe uma nova forma de pensar a relação entre conhecimento, sociedade e governança do mar. O Brasil, com sua extensa Zona Econômica Exclusiva e reconhecida tradição em ciência marinha e antártica, tem papel fundamental nesse esforço. O desafio é transformar potencial em liderança — e isso exige visão integrada, infraestrutura científica robusta e cooperação internacional efetiva.

Nos últimos anos, o País vem avançando de modo consistente nessa direção. Iniciativas como o PROASA (Atlântico Sul e Antártica, da FAPESP) e o PROFOCAZ (Fundo Oceânico da Amazônia Azul, concebido pelo CEMBRA, com colaboração da FEMAR e coordenação da Marinha do Brasil) tornaram-se marcos de uma estratégia nacional para a ciência do mar, plenamente alinhada ao Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM) e à Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). Enquanto o PROASA articula instituições voltadas ao estudo dos sistemas climáticos, oceanográficos, biogeoquímicos e ecológicos do Atlântico Sul e da Antártica, o PROFOCAZ amplia o conhecimento sobre a morfologia detalhe do fundo oceânico da plataforma continental (incluindo a estendida), fortalecendo a base científica necessária ao reforço da nossa soberania sobre a Amazônia Azul. Ambos simbolizam a convergência entre ciência, tecnologia, inovação e Estado — alicerce essencial para o futuro da sustentabilidade oceânica e a garantia de uma Amazônia Azul soberana.
Nesse mesmo horizonte se insere o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para os Oceanos do Atlântico Sul (INCT-Atlântico), iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do CNPq, com apoio da CAPES e FAPERGS. O Instituto reúne universidades e centros de excelência como a USP, a UFF, a Unisinos, a UFES, a UnB e a UFRN, entre outras, articulando esforços em geologia marinha, paleoceanografia, recursos energéticos, biodiversidade e modelagem climática. Seu propósito é claro: produzir, integrar e compartilhar conhecimento de excelência sobre o Atlântico Sul, conectando o Brasil às principais redes internacionais e aos programas de perfuração científica do substrato marinho. Mais do que uma rede de pesquisa, o INCT-Atlântico se afirma como um instrumento de diplomacia científica, que reforça o Plano Setorial para Recursos do Mar (PSRM) e projeta a competência brasileira — científica, tecnológica e institucional — no cenário global.

Um passo decisivo nessa trajetória foi a assinatura do Acordo de Cooperação entre o INCT-Atlântico e o Guangzhou Marine Geological Survey (GMGS), instituição chinesa responsável por uma das maiores frotas de pesquisa científica do mundo, composta por oito navios, entre eles o Meng Xiang, projetado para perfurações em grandes profundidades oceânicas. O acordo inclui a participação do ACC-21 (Administration Center for China’s Deep-Sea Drilling Program), órgão que coordena o Programa Chinês de Perfurações Científicas, e estabelece bases para o desenvolvimento conjunto de projetos de pesquisa no Atlântico Sul, abrindo caminho para uma cooperação bilateral inédita e estratégica entre Brasil e China.
A relevância dessa articulação foi reforçada em outubro de 2025, durante o encontro que reuniu mais de cinquenta representantes de quatro continentes para discutir o futuro da perfuração científica no âmbito do IODP3 – International Ocean Discovery Program. O evento congregou as principais redes mundiais de pesquisa do setor — ECORD/IODP (Europa), ICDP (Alemanha), JAMSTEC (Japão), SODCO (EUA) e DODP (China Deep Ocean Drilling Program). O INCT-Atlântico representou o Brasil e a América do Sul, apresentando suas propostas para o Atlântico Sul e defendendo a ampliação da participação do Hemisfério Sul na nova fase de exploração científica no Planeta. A presença brasileira simbolizou a inserção do País em um circuito de excelência, baseado na cooperação, na inovação e na busca por conhecimento sobre o planeta em escala profunda e global.
Esses avanços confirmam que o INCT-Atlântico se projeta com um dos pilares científicos do Brasil no mar, integrando-se plenamente ao esforço nacional de consolidação do PSRM. Ao lado do PROASA e do PROFOCAZ, o Instituto traduz em ação a visão de uma ciência oceânica integrada, capaz de conectar geociências, clima, biodiversidade e inovação. Sua atuação reforça a soberania científica do Brasil sobre o Atlântico Sul, ao mesmo tempo em que fortalece a cooperação internacional sob a égide da Década do Oceano e dos compromissos multilaterais de sustentabilidade marinha.
O Atlântico, que por séculos foi espaço de travessias, trocas e desigualdades, transforma-se agora em um laboratório compartilhado do Brasil. É nele que o Brasil, por meio do INCT-Atlântico e dos programas vinculados ao PSRM, participa ativamente da construção de um novo paradigma de cooperação científica global — orientado para a sustentabilidade. A Década do Oceano é, para o Brasil, mais do que uma celebração: é uma convocação. E o INCT-Atlântico, em sinergia com o PSRM e com as políticas de Estado para o Mar Brasileiro, responde a esse chamado com ciência, visão estratégica e compromisso com o futuro do mar.
Fundação Pioneira da Maritimidade no Brasil
Fundação de Estudos do Mar
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